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PAPO ABERTO #8


Cid Castro começou sua carreira na Denison Publicidade no Rio de Janeiro em 1982. No mesmo ano é contratado pela Artplan Promoções e em 1984 cria a marca do Rock in Rio Festival. Permanece na Artplan Publicidade até 1989, quando muda-se para a Europa, onde trabalha na JW Thompson Publicidade e torna-se diretor de criação da DDB Publicidade Lisboa. Hoje, vive como freelancer em Portugal.


1. Você criou a marca do Rock in Rio, que nasceu como briefing de agência de publicidade e se tornou o maior festival de música do mundo. Poderia nos contar sobre o início dessa ideia? Como surgiu, qual foi a reação do cliente?


Entrei na Artplan Publicidade 1982 por intermédio de um grande diretor de arte, Valter Vicente, conhecido como Falcon. Ele era a cara do boneco mais famoso dos Brinquedos Estrela, daí seu apelido. Ele passou-me um freela de ilustração pois o ilustrador da casa estava abarrotado de trabalho. O ilustrador não era outro senão Benício, o maior ilustrador do Brasil. É o nosso Norman Rockwell versão tupiniquim.


Fiz de tudo pra ficar na agência e em 1984 era seu assistente, quando o briefing solicitando a criação do logotipo do Rock in Rio foi passado ao departamento de criação. Apesar do trabalho não ser pra mim, como adorava rock’n’roll, roubei o briefing e comecei a labutar em silêncio. Foram muitas noites acompanhadas de muito rock e baseados até ter vários blocos de papel manteiga cheios de logotipos. Mas não tinha para quem mostrar.


Numa tarde na hora do almoço, estava revendo todo aquele trabalho que parecia ter sido em vão, quando um redator da agência entrou em minha sala. Começou a dar sua opinião com profissionalismo e disse-me que faltava conceito por trás da marca. Sugeriu que relesse o briefing mais uma vez. Reli e constatei que se aquele megafestival acontecesse no Brasil, a América do Sul se transformaria no continente da guitarra. O conceito estava encontrado. Depois foi só construí-lo graficamente. Quando mostrei o logotipo ao redator, que também não era outro senão Nizan Guanaes, ele arrancou a folha do bloco, subiu a sala do Roberto Medina e desceu com ele me dando os parabéns, pois a marca do Rock in Rio havia sido encontrada.






2. No seu livro “Metendo o Pé na Lama”, você mostra ao leitor os bastidores da produção do 1° Rock in Rio e relata as dificuldades que pareciam ir contra a realização do festival. O que o motivou a escrever essas histórias? Quais suas maiores memórias dessa época?


As pessoas não tem a mínima ideia das dificuldades que tivemos para viabilizar o festival.Tudo estava contra ele: a política do Governador Leonel Brizola, a ditadura militar, a Igreja Católica, as editoras fonográficas que não deram nenhum apoio, a classe média que não queria que seus filhos participassem num festival de sexo, drogas e rock’n’roll e até uma falsa profecia de Nostradamus apareceu para embarreirar o evento.


Internamente na agência, quase todo mundo era contra a realização dessa loucura Medinesca, éramos poucos a acreditar no projeto. Parecíamos o exército de Brancaleone! Mas contra tudo e todos o festival aconteceu e não dava para deixar de contar essa história fantástica que mudou a cara do Brasil dos anos 80, inserindo-o no show business internacional, e lançando vários talentos do Rock Brasil. Politicamente também foi marcante para coroar a democracia, pois Tancredo Neves, nosso primeiro presidente civil desde o golpe de 64, foi eleito no 5º dia do Rock in Rio. Tudo o que vivenciei nos bastidores do festival, do briefing ao seu último dia, está relatado no livro. As minhas memórias do evento servem como complemento à memória de todos aqueles que estiveram lá comigo, metendo o pé na lama.





3. Como você analisaria as principais semelhanças e diferenças entre o primeiro Rock in Rio, em 1985, os que aconteceram posteriormente (1991-2001-2004-2006-2008) e esse de 2011?

Se fizermos um paralelo do Rock in Rio de 1985 e os que aconteceram posteriormente, a diferença é abismal. Desbravamos o território do show business internacional na base da porrada, já que só contávamos com a nosso arrojo profissional e praticamente nenhuma experiência. Erramos em muita coisa e acertamos em outras tantas, mas o importante foi ter havido um bom começo.


Acompanhei a produção das versões européias do Rock in Rio (Lisboa e Madri) e fiquei impressionado como as coisas mudaram. Da captação dos patrocinadores, passando pela organização do festival e a brutal tecnologia que envolve hoje o evento, é tudo diferente. O conceito atual do festival mudou, porque o mundo também mudou. A sociedade de consumo consome hoje muito mais coisas do que consumia há 25 anos. O desejo de liberdade, a luta contra o regime ditatorial, eram ambições de quase todos os jovens daquele tempo. Hoje anseia-se pelos tablets, e pela TV em 3D. O Rock in Rio transformou-se numa Disneylândia, com roda gigante, desfile de modas, e agências bancárias eletrônicas, fornecendo o dinheiro necessário para que todos possam saciar a sua sede de consumo. Do ponto de vista do marketing está corretíssimo, é um case de sucesso.


Mas gostaria de voltar a ver aquela mística que envolveu as pessoas em 1985, atualizada através dos movimentos ambientalistas, das lutas contra os preconceitos raciais e sexuais, por mais igualdade econômica no mundo. Mas parece que esse patrimônio pertence agora a outros festivais.


4. Além do retorno do Rock in Rio esse ano e das edições já confirmadas do festival para 2013 e 2015, o Brasil está sendo palco de grandes eventos na área, como o SWU e a vinda do Lollapalooza em 2012. Morando em Portugal, como você vê esse atual panorama musical brasileiro?


Acho importante haver grandes festivais alternativos no Brasil. Não sei muito sobre o Lollapalooza mas o SWU já é uma referência mundial. É preciso haver um posicionamento forte e coerente por trás de tudo o que se faz, tanto a nível pessoal quanto institucional. Acho que o Rock in Rio atual perdeu isso, daí a sua descaracterização, quando comparado ao de 1985. Muita gente diz que não vai a essa edição do festival porque muitas bandas não pertencem ao universo rock. Musicalmente elas têm razão, mas emocionalmente elas não vão a esse novo Rock in Rio por falta de identificação ideológica com o evento.


5. Você ajudou a construir uma marca que se transformou em sinônimo de estilo de vida para diferentes gerações. Qual mensagem você deixaria para quem já foi ou ainda pensa em curtir um Rock in Rio?


Que divirtam-se da melhor forma possível!





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